Para discutir os impactos das queimadas na saúde da população brasileira e definir estratégias de enfrentamento, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, reuniu pesquisadores e especialistas da Universidade de Brasília (UnB) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), nesta terça-feira (17). O encontro teve como objetivo reforçar medidas para proteger as comunidades mais afetadas, com atenção para aquelas em situação de maior vulnerabilidade, como trabalhadores ao ar livre, moradores de áreas rurais e indígenas, e pessoas em situação de rua. “Há dupla dimensão no nosso trabalho: a compreensão dos impactos e a responsabilidade de fornecer recomendações", declarou a ministra.
Durante a reunião, foram debatidas estratégias imediatas de prevenção e tratamento das doenças relacionadas aos incêndios florestais, além de orientações gerais à população sobre os cuidados com a saúde. A pesquisadora e professora Mercedes Bustamante defendeu que a saúde é central em toda a discussão sobre a crise climática. “Parabenizo o Ministério da Saúde pela iniciativa de chamar esta reunião. Os resultados de um estudo que fizemos em 2022 sugerem que os incêndios florestais se tornarão mais frequentes e intensos nas próximas décadas. Isso significa que o combate aos incêndios será cada vez mais complexo, uma realidade que já estamos vivenciando. Portanto, será necessária coordenação e investimentos crescentes para enfrentar essa crise ambiental”, disse.
Em concordância, Christovam Barcelos, pesquisador da Fiocruz, ressaltou que, em alguns casos, os focos de queimadas ocorrem em áreas já desmatadas. “Mas os efeitos chegam a cidades distantes, como Porto Velho, e até mesmo às terras indígenas, que, embora ainda protegidas, acabam recebendo fumaça vinda de centenas de quilômetros de distância. Não se trata apenas da seca — embora ela seja um fator contribuinte —, mas também da ocupação irregular, avanço da fronteira agrícola e desmatamento, que, em conjunto, sobrecarregam o sistema de saúde, resultando em um aumento de doenças respiratórias e, em alguns casos, hospitalizações”, destacou.
A médica Margareth Dalcolmo falou sobre a importância da hidratação. “Manter essas pessoas hidratadas é crucial. Sabemos que houve um aumento no número de internações e demandas nas emergências por problemas respiratórios, isso reflete o agravamento da situação que estamos vivendo. Medidas simples para umidificar o ambiente ajudam, como o uso de bacias de água, toalhas molhadas e aparelhos de purificação do ar sem produtos químicos. Essas são orientações simples, mas eficazes, especialmente para pessoas idosas ou com doenças respiratórias”, explicou.
Força Nacional do SUS inicia Missão Seca Extrema
Desde segunda-feira (16), as equipes da Força Nacional do SUS estão sendo enviadas para os estados mais atingidos pela emergência climática. As visitas para análise de situação tiveram início por quatro municípios prioritários do Acre, que sofrem efeitos das queimadas e da seca extrema: Acrelândia, Marechal Thaumaturgo, Cruzeiro do Sul e Tarauacá. Nesses locais, o acesso está prejudicado pela baixa dos rios e pela falta de visibilidade para voos. Além desses municípios, a comunidade de Espalha, em Rio Branco, também contará com a análise.
“Tanto o Ministério da Saúde quanto o do Meio Ambiente têm a palavra prevenção como chave. Estamos trabalhando junto com os governos locais para promover ações mais estruturantes para o plano de adaptação, mitigação e transformação”, defendeu a ministra Nísia Trindade. Uma série de ações estão em andamento por parte do Ministério da Saúde em decorrência da emergência climática. Uma Sala de Situação foi criada ainda em julho, juntamente com representantes de estados e municípios, além de instituições de saúde e meio ambiente.
“Estamos produzindo informes sobre as queimadas em alinhamento com a Sala de Situação, que é composta por mais de 40 pessoas, entre especialistas e gestores de todo o país”, reforçou a ministra Nísia. Diante da intensificação dos focos de incêndio e as previsões meteorológicas que apontam piora do quadro de seca, as reuniões da Sala de Situação estão ocorrendo diariamente. Os informes também são diários.
A Sala de Situação está sob coordenação da diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, Agnes Soares. “Hoje, acompanhamos a situação com base nas semanas epidemiológicas, utilizando os dados de reanálise de campo. São feitas avaliações com base nas informações mais recentes e as projeções vão sendo atualizadas constantemente. O acompanhamento é realizado pela equipe de vigilância da qualidade do ar - Vigiar, que traz essas discussões para a Sala de Situação”, disse. A sala reúne pesquisadores, técnicos e gestores de saúde ambiental de todo o Brasil desde julho para acompanhar a evolução das queimadas e seus efeitos.
Os participantes também discutiram a necessidade de reforçar o fornecimento de equipamentos e insumos para o atendimento das vítimas, além da importância de campanhas de conscientização sobre os riscos à saúde provocados pela exposição à fumaça.
O secretário de Atenção Primária, Felipe Proenço, reiterou que existem 47 mil Unidades Básicas de Saúde com mais de 52 mil equipes de Saúde da Família espalhadas pelo país. “São estruturas fundamentais nesse momento que estamos vivendo. Estamos trabalhando na elaboração de materiais e orientações para os profissionais de saúde, para que atendam com qualidade à população diretamente atingida”, disse.
A reunião também contou com a presença do Secretário de Atenção Especializada, Adriano Massuda; do secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente, Rivaldo Venâncio; e do coordenador-geral da Força Nacional do SUS, Rodrigo Stabeli. Participaram, ainda, professores e pesquisadores, como Walter Massa Ramalho (UnB); Guto Galvão (Fiocruz); Maurício Barreto (Fiocruz); e Nelson Gouveia (USP).
Principais orientações
À população, o Ministério da Saúde recomenda:
Aos gestores, a pasta orienta:
Ministério da Saúde